O Vaticano, por determinação do papa Francisco, publicou em junho de 2022, após a publicação do livro “Os Indesejados”, portanto, milhares de cartas endereçadas ao papa Pio XII com pedidos de ajuda a judeus europeus durante a Segunda Guerra Mundial. São cerca de 40 mil arquivos digitalizados e distribuídos em 170 pastas que começam a ser consultados e estudados por historiadores. Em meio a essa documentação, pesquisadores encontraram a carta (anexa) de um cônego da arquidiocese de Milão à secretaria de Estado do Vaticano intercedendo em favor de meu pai, Hans Glasberg, junto ao embaixador do Brasil para que lhe fosse concedido um visto para emigrar da Itália onde vivia como refugiado. Meu pai fora detido em junho de 1940, juntamente com outros judeus refugiados, quando Mussolini se juntou a Hitler na guerra. A resposta afirmativa do Vaticano é dirigida ao cardeal Schuster de Milão, seguida da concessão do visto para o Brasil através do consulado de Gênova. Um acordo entre Pio XII e Getúlio Vargas possibilitou que umas poucas centenas de pessoas conseguissem escapar do Holocausto. A história desse acordo, agora mais documentada e esclarecida, é a que está no livro em que relato a fuga de minha família para o Brasil.
Rubens Glasberg
O Centro de Memória do Museu Judaico de São Paulo, sensibilizado por sua generosidade, agradece a sua doação de documentos e fotos de família usados na edição do livro e o próprio livro Os indesejados: uma história de refugiados no tempo do nazismo
Considerando o acervo do Museu enriquecido pela importância do seu oferecimento, em nome da entidade, reitero os agradecimentos pela valiosa colaboração.
Atenciosamente,
Linda Derviche Blaj
O livro “Os indesejados: uma história de refugiados no tempo do nazismo” subsidiou, como fonte bibliográfica, a pesquisa de Jair Santos, pesquisador da da Scuola Normale Superiore de Pisa/Itália, para o artigo “A Diplomacia Pontifícia e os Refugiados Judeus no Brasil (1939-1941): Uma Investigação Preliminar nos Arquivos de Pio XII”. Neste artigo, publicado na Revista de História da FFLCH/USP, autor analisa o papel da diplomacia pontifícia nas negociações entre o Vaticano e o governo de Getúlio Vargas para a concessão de vistos a refugiados judeus convertidos ao catolicismo (“católicos não arianos”) entre 1939 e 1941. Utilizando os arquivos do pontificado de Pio XII, abertos em março de 2020, e dialogando tanto com a historiografia brasileira a respeito das políticas migratórias quanto com a historiografia europeia recente dedicada ao catolicismo, a pesquisa pretende contribuir para o aprofundamento do debate acerca do papel da Igreja na questão dos refugiados judeus no Brasil. A íntegra do artigo está disponível em https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/191259/183946