Os Indesejados

SOBRE O LIVRO

Na segunda-feira, 14 de março de 1938, Hitler chegou aplaudido a Viena, onde foi recebido pelo advogado nazista Seyss-Inquart, que assumira o governo da Áustria na véspera. Reinhard Heydrich, Heinrich Himler e Martin Bormann (da direita para a esquerda), principais chefes da SS e que foram os organizadores das espoliações de bens e demais violências contra judeus, aparecem na foto atrás de ambos. Foto Heinrich Hoffman – fotógrafo pessoal de Hitler. Bundesarchiv, Bild 119-5243 / CC-BY-SA 3.0.
Na segunda-feira, 14 de março de 1938, Hitler chegou aplaudido a Viena, onde foi recebido pelo advogado nazista Seyss-Inquart, que assumira o governo da Áustria na véspera. Reinhard Heydrich, Heinrich Himler e Martin Bormann (da direita para a esquerda), principais chefes da SS e que foram os organizadores das espoliações de bens e demais violências contra judeus, aparecem na foto atrás de ambos. Foto Heinrich Hoffman – fotógrafo pessoal de Hitler. Bundesarchiv, Bild 119-5243 / CC-BY-SA 3.0.
De Philipp (avô paterno do autor) só restou o atestado de óbito com o dia, hora e causas da morte em Theresienstadt. Fonte: Arquivo Nacional, Praga, República Tcheca
De Philipp (avô paterno do autor) só restou o atestado de óbito com o dia, hora e causas da morte em Theresienstadt. Fonte: Arquivo Nacional, Praga, República Tcheca
Depois de prestar depoimento e ser interrogado por Eichmann (à esquerda) em junho de 1938, Geza (o avô materno do autor) intuiu que não havia nada mais a salvar em Viena, além da vida. Decidiu fugir imediatamente da Áustria com mulher e filha. Foto de Eichmann: autor desconhecido.
Depois de prestar depoimento e ser interrogado por Eichmann (à esquerda) em junho de 1938, Geza (o avô materno do autor) intuiu que não havia nada mais a salvar em Viena, além da vida. Decidiu fugir imediatamente da Áustria com mulher e filha. Foto de Eichmann: autor desconhecido.
À noite, em frente ao Duomo de Milão, a imagem iluminada de Mussolini, que contou com o apoio do cardeal Schuster até novembro de 1938, quando condenou as Leis Raciais do Duce.
À noite, em frente ao Duomo de Milão, a imagem iluminada de Mussolini, que contou com o apoio do cardeal Schuster até novembro de 1938, quando condenou as Leis Raciais do Duce.

A simples força da verdade

O que torna especial a história das famílias Klinger e Glasberg – uma das milhões que compõem a grande tragédia dos judeus no século XX, a Shoá, e emergem da verdade profunda e dolorosa que é a base de todas elas – é a forma como é contada. Com emoção contida, discreta, jamais derramada, e por isso mesmo mais intensa. O autor não precisa da veemência, que explode nos adjetivos, para dizer o que quer. Só recorre a ela nas passagens em que se torna impossível conter a indignação com a barbárie. Prefere a força do substantivo – preto no branco –, que fala por si. A sobriedade vem aliada à vontade não só de contar, mas igualmente de analisar e entender o que se passou e por que, assim como o comportamento dos personagens. Tudo isso acrescido da fluência de uma linguagem direta, clara e precisa. Essa análise e esse entendimento fazem com que a história dos Klinger e dos Glasberg, reconstituída com minúcia e rigor, esteja sempre inserida no drama que viveu o mundo nos anos 30 e 40 do século passado. A fuga para o Brasil dos Klinger, vindos da Áustria via França e Portugal – mais movimentada e documentada por causa das memórias de Elisa, mãe do autor, retrabalhada por ele –, mas também de Hans Glasberg, vindo da Alemanha via Itália e Portugal, é documento cuja importância transcende o interesse da família. Mostra com vivacidade o Velho Mundo desmoronando e sendo reorganizado com a força bruta da barbárie nazista. E, nele, o que o ser humano tem de pior, mas também a dignidade e a generosidade de muitos. A tenacidade e o sofrimento dos Klinger e Glasberg e a coragem dos que – o autor faz questão de salientar – lhes estenderam a mão, de personagens anônimos ao embaixador brasileiro na França, Luiz Martins de Souza Dantas. Uma história a ser lida e pensada. Lourenço Dantas Mota

Memórias de uma geração que conheceu de perto o lado mais cruel e desumano da humanidade

Rubens Glasberg fez mais neste livro do que apenas reproduzir a história dos pais dele. Extremamente zeloso e fiel às fontes orais, não as publica de maneira acrítica. Aplica ao que recolheu o trato metodológico adequado, empreendendo uma pesquisa de fôlego, contextualizando e interpretando de maneira analítica o que registrou e escutou e fazendo, por fim, um trabalho de rara qualidade. O autor dessa obra oferece aos leitores um livro de historiador e aos estudiosos do tema um trabalho de excelente nível. A publicação transcende em contribuição ao conjunto de registros de memória familiar que eventualmente são publicados. É um livro para figurar nas estantes junto aos bons livros de História. Fábio Koifman professor de História da UFRRJ

O Vaticano e o Nazismo: um complemento

O Vaticano e o Nazismo: um complemento

O Vaticano, por determinação do papa Francisco, publicou em junho de 2022, após a publicação do livro “Os Indesejados”, portanto, milhares de cartas endereçadas ao papa Pio XII com pedidos de ajuda a judeus europeus durante a Segunda Guerra Mundial.  São cerca de 40 mil arquivos digitalizados e distribuídos em 170 pastas que começam a ser consultados e estudados por historiadores. Em meio a essa documentação, pesquisadores encontraram a carta (anexa) de um cônego da arquidiocese de Milão à secretaria de Estado do Vaticano intercedendo em favor de meu pai, Hans Glasberg, junto ao embaixador do Brasil para que lhe fosse concedido um visto para emigrar da Itália onde vivia como refugiado. Meu pai fora detido em junho de 1940, juntamente com outros judeus refugiados, quando Mussolini se juntou a Hitler na guerra.  A resposta afirmativa do Vaticano é dirigida ao cardeal Schuster de Milão, seguida da concessão do visto para o Brasil através do consulado de Gênova. Um acordo entre Pio XII e Getúlio Vargas possibilitou que umas poucas centenas de pessoas conseguissem escapar do Holocausto. A história desse acordo, agora mais documentada e esclarecida, é a que está no livro em que relato a fuga de minha família para o Brasil.

Rubens Glasberg

O Centro de Memória do Museu Judaico de São Paulo, sensibilizado por sua generosidade, agradece a sua doação de documentos e fotos de família usados na edição do livro e o próprio livro Os indesejados: uma história de refugiados no tempo do nazismo

Considerando o acervo do Museu enriquecido pela importância do seu oferecimento, em nome da entidade, reitero os agradecimentos pela valiosa colaboração.

Atenciosamente,

Linda Derviche Blaj

A Diplomacia Pontifícia e os Refugiados Judeus no Brasil

O livro “Os indesejados: uma história de refugiados no tempo do nazismo” subsidiou, como fonte bibliográfica, a pesquisa de Jair Santos, pesquisador da da Scuola Normale Superiore de Pisa/Itália, para o artigo “A Diplomacia Pontifícia e os Refugiados Judeus no Brasil (1939-1941): Uma Investigação Preliminar nos Arquivos de Pio XII”. Neste artigo, publicado na Revista de História da FFLCH/USP, autor analisa o papel da diplomacia pontifícia nas negociações entre o Vaticano e o governo de Getúlio Vargas para a concessão de vistos a refugiados judeus convertidos ao catolicismo (“católicos não arianos”) entre 1939 e 1941. Utilizando os arquivos do pontificado de Pio XII, abertos em março de 2020, e dialogando tanto com a historiografia brasileira a respeito das políticas migratórias quanto com a historiografia europeia recente dedicada ao catolicismo, a pesquisa pretende contribuir para o aprofundamento do debate acerca do papel da Igreja na questão dos refugiados judeus no Brasil. A íntegra do artigo está disponível em https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/191259/183946

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