Os Indesejados

Os Indesejados

Após anos de fuga, Elisa - com seus pais, Geza e Marie, já casada com Hans - adapta-se à nova realidade no Brasil
Após anos de fuga, Elisa - com seus pais, Geza e Marie, já casada com Hans - adapta-se à nova realidade no Brasil

“Neste livro, reproduzi e interpretei memórias que não são minhas sobre um tempo e acontecimentos que não testemunhei. Junto relatos de família com acontecimentos conhecidos. Não acredito que se reproduzirão de modo igual, agora ou em próximas gerações. Duvido que haja um novo Holocausto. Não se entra duas vezes na mesma água do rio, porque ele flui. Nem tudo o que ocorreu no passado se repetirá no presente ou no futuro. Mas há muito desse passado no nosso presente e no futuro”

Rubens Glasberg

Episódios de estigmatização, pela horda bolsonarista, dos estabelecimentos com proprietários petistas lembra um dos momentos violentos do nazismo

Na noite de 8 para 9 de novembro daquele ano de 1938 tive uma estranha premonição. Sonhei que estava caminhando por um cemitério judaico desconhecido com minha tia (a mesma que morou na casa em que nasci). Perguntei o que fazíamos ali. Ela respondeu que deveria me acostumar com a situação, porque nossos familiares seriam enterrados nos mais diversos cemitérios do mundo”.

A noite seguinte a este sonho, de 9 a 10 de novembro, há exatos 84 anos, foi a Kristallnacht (Noite dos Cristais), e é sobre ela que minha mãe, Elisa Klinger, teve o que chama de “estranha premonição”, relatada em suas memórias.

Nessa noite de 1938, sinagogas e lojas de judeus na Alemanha e Áustria tiveram vidraças e vitrines estilhaçadas pelas SA, as milícias nazistas. Muitas foram incendiadas e também pichadas com a estrela de David para estigmatizá-las. O governo assistiu a tudo sem intervir.

Os bolsonaristas de Casca, município do interior do Rio Grande do Sul, anteciparam em dois dias a lembrança da data. Aparentemente tentaram no dia 7 deste mês uma comemoração parcial da barbaridade nazista. Por enquanto, tiveram apenas a ideia criminosa de marcar com a estrela do PT os estabelecimentos comerciais cujos proprietários votaram em Lula e não em Jair Messias para que sejam boicotados pela população.

Ainda não foram ao limite extremo da violência nazista. Não instigaram até agora seus seguidores a estilhaçar janelas e vitrines dos munícipes petistas, mas estão perto de chegar a mais desatinos se não forem contidos. A sequência de impunidades acabaria levando-os a incendiar lojas e sedes partidárias, espancar pessoas num simulacro da Kristallnacht. Ou seja, a repetição de uma Noite dos Cristais em Casca.

Se as instituições da nossa República continuarem funcionando, os casquenses não assistirão, por enquanto, às cenas vividas há 84 anos na noite de 9 para 10 de novembro em Berlim, Viena e outras cidades do III Reich. No Brasil, em novembro de 2022, a violência contra pessoas continua sendo crime e dá cadeia. Os nazistas ou seus similares nacionais não venceram as eleições presidenciais de outubro passado.

Ao contrário do que ocorreu na Alemanha dos anos 1930, as forças democráticas brasileiras conseguiram se unir numa frente multipartidária, evitando a ameaça iminente da consolidação de um regime inspirado no nazismo e fascismo do século passado. Resta agora, a duras penas, sustentar a vitória da nossa democracia.

(Este blog tem compromisso com a garantia dos direitos democráticos ameaçados. É o motivo para a divulgação que faço aqui do livro com memórias de família colhidas de um tempo que hoje parece se repetir)

Sobre o autor

Jornalista há mais de 50 anos, Rubens Glasberg trabalhou em diferentes redações de São Paulo e em variadas funções. Foi editor Internacional no Estadão; de Política, na Folha; e de Informática, na revista Exame. Passou também por publicações hoje extintas como Gazeta Mercantil e Jornal da República. Criou nos anos 1990 a sua própria editora, lançando várias revistas dirigidas a profissionais de TV, vídeo, cinema e telecomunicações, além de mobilidade e tecnologia da informação, que hoje sobrevivem na forma de noticiários eletrônicos. Aposentado e em lockdown autoimposto pela Covid, escreveu o livro “Os Indesejados”. Baseou-se em relato deixado pela mãe, além de memórias, entrevistas, documentos, leituras e um álbum de família em que foi descobrindo explicações e mensagens no verso das fotos.

Rubens Glasberg
capa

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